Fêmea.
Março 27, 2008
Toca-me a tua fragilidade escondida por trás dessa imagem de fêmea feroz. Sinto-te as garras recolhidas por reflexo enquanto te mordo os lábios de virgem involuntária sabendo que me afastas contra vontade enquanto te tomo e faço minha num só beijo. Gosto dessa boca ansiosa de amor, gosto de violar os teus ouvidos com palavras doces e obscenidades subentendidas na hora da paixão , submeter-te à energia que pulsa vigorosamente dentro de ti, expulsar os demónios da saudade que te perturbam o cio e fazer-te lembrar de como é bom o sabor do costume proibido.
Vejo-te no espaço infinito da memoria como uma imagem vital, como algo que pela sua forca muda as leis do universo e do destino. Inconsciente sopras em mim a força de um desejo que não compreendo e contra o qual não consigo lutar. Sinto-te parte de mim como se tua presença transcendesse o espaço infinito do teu jeito e habitasse a energia de todos os corpos e que vivesses em mim mesmo antes de nascer e me tivesses amado numa espiral infinita de existências e realidades em completo desprezo pelas normas alheias e morais hipócritas .
Perco-me a cada minuto olhando para ti e sou tocado pelas imagens de carne. Desejos de sabor quente e mente obscura. Perturbam-me os teus lábios frutados , húmidos de convite, a lentidão dengosa em que te moves em silencio, descaindo coxa ante coxa ondulante e fatal. Alcanço no teu peito um suspirar ofegante e entre olhares sinto-me incapaz de te fazer minha, de te roubar a este destino vulgar, de te arrancar do chão cavalgando montanhas para te levar para longe de tudo o que nos faz não viver. Do que nos faz calcorrear caminhos sem paz e sem destino quando o que queremos é estar frente a frente esboçando um não declarado sorriso de convite.