O Mais Importante Feito da Criação 2/10
Maio 30, 2010
E agora frente a frente com a epítome da beleza, uma imagem tantas vezes vista e nunca antes observada, hoje transformou-se na obliqua luz da manhã e encontrou o seu destino como origem da arte.
“ Vinha buscar o que me pediste.”
Nada, vazio. Todos os processos da alma desistiram de mim. Vivo para um só propósito: capturar a essência da Beleza e fixá-la para todo o sempre.
“ Não consegui acabar.”
Flora entrou sem pedir. Passou por mim sem uma palavra e percorreu a sala mutilada pela violência da noite. Parou.
“ Gostei deste.”
Eu não gostei desse. Não gostei daquele. Não gostei de nenhum destes que espelham o meu desespero e insistem em me assombrar as noites. Fantasmas, sintomas do vício, reflexos de um eu que não quero que exista mas que ressurge quando menos se espera.
“ Está inacabado.”
Os seus olhos comprimem-se na impaciência e os seus gestos suaves aumentam de ritmo. Observo a angústia enquanto escorre uma linha de tinta levantando a ponta de um pincel.
“ Acabaste algum?”
Flora continua a passear-se pelos quadros como folheando um livro. A sua silhueta translúcida muda na claridade da manhã, transforma-se através do espaço.
“ Trabalhei toda a noite e até agora a inspiração não tinha chegado.”
Flora roda ligeiramente nos calcanhares. Sorriu com os olhos. As palavras tinham-me saído sem propósito mas com uma finalidade da qual eu não era dono. Agora era como se o destino tive-se tomado conta de todas as nossas acções num sistema indefinível com o propósito de se auto-cumprir.
“ O que mudou entretanto?”
“ Ao abrir da porta a inspiração chegou.”