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100Destino

Onde um destino sem destino procura um destino entre cem.

100Destino

Onde um destino sem destino procura um destino entre cem.

Eu vivo dentro de um quadro.

Julho 15, 2016

      Ela ainda tem esperança. Ela lembra-se que o rapaz que se perdeu dela ainda vai a tempo de a encontrar. Reencontrar nesta praia e volte para si como naufrago esperando sofregamente pelo beijo que o devolva à vida. Que o devolva ao seu abraço. Que o devolva ao seu carinho.
      Naquele quadro sónia pintou um mundo imaginário. O meu mundo imaginário. Eu vivo dentro de um quadro. Este quadro é uma recordação de um tempo antigo. Um tempo que já não me lembro se vivi ou se tentei esquecer.

O seu olhar de pena.

Julho 14, 2016

      A madrugada recusa-se a chegar e eu peço por ajuda. Pedro olha-me com o seu olhar de desprezo. O seu olhar de pena. No ar, uma cama de folhas de papel. Adejam, pingado a tinta vermelha do sangue que derramo em lágrimas de melancolia.
      O corpo eleva-se, sustenido pelas borboletas escarlates dos agudos de joana que já não canta alegre. Agora chora ao longo da praia uma cantiga de saudade. Procura que as suas palavras naveguem os movimentos tectónicos das ondas do mar e que corram todos os mundos que nos unem e que, finalmente, me encontrem e me tragam de volta.

Todos os fantasmas surgem de uma vez.

Julho 13, 2016

      Perco as forças, a consciência, desmaio. Dentro de mim sinto-me a desfalecer. É como se a explosão que destruiu o manuscrito existisse apenas dentro de mim e a cada segundo sinto que vai explodir outra vez.
      Uma e outra vez, volta esta dor de desespero. Os meus olhos começam a deixar de focar e tudo se transforma numa névoa espessa. Todos os fantasmas surgem de uma vez. Entram e saem da música que os pinceis de sónia tocam na tela.

Caleidoscópio.

Julho 12, 2016

      Tenho vergonha de mim. Tudo o que sai de mim são apenas resquícios de sonho quebrados num caleidoscópio. Numa figura fractal que não consigo reconstituir. Perco-me tentando lembrar-me. Como seria lembrar de como tudo começou? Não quero desperdiçar o que resta da minha vida.
      Ao longe procuro pelos dedos de sónia. Que passa por mim de lágrimas nos olhos. Enquanto a mão de pedro a cada segundo aperta em constrição o nó que se forma na minha garganta.

Agora podemos falar de tudo.

Julho 11, 2016

      Os seus dedos apertam a minha garganta impedindo o suicídio. Como seria bom morrer e não mais sofrer à procura do santo graal da congruência. Onde finalmente pudesse encontrar as palavras que definissem a vida.
      Pelo canto do olho, ouço o cantigo colorido de joana a sair do seu quadro e o fantasma quase transparente de sónia a atravessar por dentro deste pedro que me cerca e oprime. Agora podemos falar de tudo. Tudo vai ficar bem.

As mãos sujas de sangue das letras.

Julho 08, 2016

      Olho as minhas mãos sujas de tinta. As mãos sujas de sangue das letras. O massacre do manuscrito fez as suas vítimas entre a multidão de letras. Algumas têm de morrer. Alguém tem de morrer.A vida é um silencioso redemoinho de nascimento e morte.

      Damos vida às letras que formam as palavras e de súbito somos senhores do seu destino. Passa a caber a nós a capacidade de decidir quem vive ou morre. Quem durará no firmamento da obra ou quem morrerá no esquecimento da reedição.

Ela ilumina o espaço.

Julho 07, 2016

      Ela ilumina o espaço. Na sua mão uma fotografia. Uma fotografia de uma rapariga vestida de noiva a dançar à beira-mar. Segura o vestido pelos joelhos. Na nascente das coxas reveladas pela humidade, acontece um triângulo de doce. Sónia dança à beira-mar.
      Das sombras surge pedro, imaculado. Desta vez aparece intocado por aquilo que queima. Acho que o pedro não consegue morrer. A garganta esquartejada fechara com a força de um destino ainda por cumprir.

As notas de música dependuradas no arco-íris.

Julho 06, 2016

      Joana passa para este lado do quarto procedendo a cantar as notas de música dependuradas no arco-íris. Junta-se a mim no chão. Parece não sentir o vidro que nos fere por dentro. Que nos atormenta este tecido que nos fecha o corpo.

     A presença de joana é leve, quase inexistente. É como se fosse apenas uma áurea. Uma energia que veio para me salvar. Um amor maior que salva tudo e todos tornando esta morte impossível de realizar. Impossível de acontecer independentemente das vezes que se tente.

 

O tecido desta realidade.

Julho 05, 2016

133. A consciência é um vale incinerado pela melancolia e no fundo nada me resta. Sou apenas a memória daquilo que nunca fui. Toda a minha vida foi criada na bidimensionalidade do papel e eu continuo a existir sem conseguir perfurar o tecido desta realidade.

Ácido acre das lágrimas.

Julho 05, 2016

132. Não consigo vê-la pois tenho os olhos carbonizados pelo ácido acre das lágrimas. Mas posso ouvir-lhe o som das cores. Tento levantar-me, mas a dor alastra-se entre as ranhuras talhadas pela lâmina dos vidros. Sinto o sangue a evadir-se deste corpo inerte.

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