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100Destino

Onde um destino sem destino procura um destino entre cem.

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Onde um destino sem destino procura um destino entre cem.

O Esquecimento Natural Das Coisas.

Agosto 30, 2016

      O miador atormentado procura roçar-se nas pernas, procura um afagar apaziguador nas orelhas e de preferência encontrar na sua malga a caçada mágica do dia. Ficamos indefinidamente em suspenso neste sopro a que chamam viver. A metáfora ultrapassa-nos, tornando impercetíveis os limites do seu amplexo.
       Pedro aproxima-se do fim. Uma luta visceral contra os demónios de si. E finalmente, terá descoberto o santo graal dos parêntesis. Algures, as sílabas alinharam-se na solidariedade gravítica da prosa.
       Suponho que afinal exista um lugar de descanso onde se possa pousar a caneta e que o livro se possa escrever a si próprio. Sem tormentos, dúvidas ou desistências. Talvez possamos criar um ser vivente nesse livro que possua o seu calor. Os seus próprios desejos e carências. Sofra também com quem o leia. Evolua e se transforme ao ponto de melhorar com o tempo.
       Joana senta-se à beira de água. Já não dança, já não chora. Olha o horizonte longínquo e suspira. Sente que o rapaz que se perdeu dela está a caminho. E a voltará encontrar um dia. Basta saber esperar.

O Esquecimento Natural Das Coisas.

 

           «««««   Fim.   »»»»»

O mapa encardido de uma felicidade tardia.

Agosto 29, 2016

      Existe sim o mapa encardido de uma felicidade tardia. Um pergaminho misterioso que se oculta nos interstícios da alma. Esconde-se por entre as fimbrias da dor e tem de se procurar interminavelmente para encontrar o fio condutor que o puxará finalmente de volta para a vida.
      Joana entra no mar à procura da sua alma salgada. Abre os braços como vela distendida à espera que vogue o espirito do vento e que a preencha eternamente com a sua aragem, com o seu calor.
      Joana sobe levada pelos ventos da sua amargura e espera encontrar nos terrenos do céu quem se perdeu de si. Algures no vapor matutino da esperança irá existir um momento onde o sonho toca a realidade e tudo o que nos atormenta possa finalmente morrer de inanição.
      Joana diz que um dia irá pintar um quadro. Usar as cores mais lindas e criar um artefacto de alegria e calor, irá pintar as linhas da empatia. Até já sabe como irá chamar ao seu quadro.

Toda a gente precisa de atenção.

Agosto 26, 2016

     Olho as minhas mãos, os dedos estão vermelhos, inchados. No dedo médio já existe um encaixe fabricado pelo poisar da caneta durante horas e horas de esculpir as palavras. Quilómetros de frases sem sentido aparecem, vão, voltam e subsistem. Insistem comigo, falam de coisas que não compreendo. Como é possível não compreender o que sai de dentro de mim?
     Olho o quadro na parede e este encontra-se inamovível. Preso na escuridão de um canto iluminado. Está ali. Pura e simplesmente existe. O miador sobe para a secretária, roçando o corpo na pilha de livros que me servem de apoio.
     Ao lado, o bonsai de glicínias jorra os seus violetas sob o tampo desgastado da secretária. O miador ronrona olhando para mim, precisa de atenção. Toda a gente precisa de atenção.
     Chega-se ao ponto de não saber o que é o passado ou o que é a imaginação. Soltam-se as folhas ao vento soprado pela voz da criação e dentro desta, o mundo existe à potência de si. Multiversos de ficção surgem dentro do autor como se ele fosse a nascente da sabedoria. Não existe sabedoria dentro de um escritor.

Interminavelmente.

Agosto 25, 2016

     Existe uma entidade superior que me possui por dentro a guiar o que devo ou não fazer. O que devo sentir. É como se a sua longínqua mão penetrasse dentro do meu coração e apertasse os dedos dentro dele. Delimitando quando pode ou não bater.
     O miador roça-se nas minhas pernas por debaixo da secretária. Procura um aconchego nos meus pés. Como será viver num mundo desprovido de afazeres? Sem o drama da procura interior da próxima palavra? Da frase que se nos escapa por entre os dedos incapazes?
     Fazer e refazer o mesmo pensamento e a mesma dor. É como se a vida fosse uma espiral de dor que volta sempre ao mesmo sítio. A dor só existe se for vivida uma vez e outra, interminavelmente.

O beijo surge a medo.

Agosto 24, 2016

     Espero que os estilhaços penetrem a pele e abram espaço para que a tristeza sangre os seus afluentes de prata. Sonia chora perguntando como se pode perder uma pessoa que está ali mesmo à sua frente. Como se pode perder um abraço apertado.
     O beijo surge a medo. Existe o medo que a rejeição vença a melancolia e sobreviva ao ataque carnívoro do menosprezo. Os meus dedos são como agulhas que chovem sobre os olhos cegos deste lacrimejar salino. A culpa é do piano e dos seus haikus escritos no passadiço das teclas moribundas.
     Seria tão fácil de falar sobre faces felizes e paisagens utópicas, amor, paixão e finais felizes. Mas dentro do manuscrito existe uma resistência à realidade que me enfrenta e domina.

De olhos fechados pela insónia.

Agosto 23, 2016

    O que existe? Quem serei eu senão uma obra de ficção inacabada. Um personagem esculpido num granito defeituoso que sob a força do escopro cindiu. Partiu pela parte mais fraca detonando migalhas de vidro em várias direções. Deixando atrás de si a fraca imagem do que antes foi.
    Um vago reflexo daquilo que poderia ter sido. Luto contra a insónia exasperante. Noites e dias passam como estrelas cadentes e eu de olhos fechados pela insónia não consigo senti-los passar.
    Este desespero que cresce e cresce ao ponto da angústia esticar as suas raízes para fora da pele. Pareçe que não aguento dentro de mim. Ponho os ouvidos à escuta e oiço o ruminar interior de um coração que definha na solidão agreste das letras.

A chave fictícia da entropia.

Agosto 22, 2016

     Escuto o marulhar dos pés nas agulhas de vidro. Ribombam as pétalas dos hibiscos ao vento norte. As janelas recusam-se a compreender a chuva que canta nos caixilhos.
     Dentro de mim escorre este sangrar, este rio de imperfeição que me atemoriza os passos. Pingo gotas de suor sobre este soalho. Suspendem-se na orla florida da pele e nunca chegam ao chão. Nunca chegam a lado nenhum. O miador dança em silêncio sobre as suas pegadas que não deixam marca na areia. A água do mar sabe que o miador possui a chave fictícia da entropia.
     Sónia finalmente surge-me alada com joana nos braços. Um vagar de morte desce sobre a terra. Nas trevas, um manto de solitude e saudosismo nos aquece o fúnebre gesto de amar. Olhamos a natureza e chegamos a conclusão que a morte é um inseto terráqueo numa prisão de âmbar.

A comitiva das letras.

Agosto 19, 2016


      Cabe-nos a nós descortinar o sentido efémero do viver. A pulso, subir a corda magmática que nos fere por dentro. E do naufrágio, desistir de um eu iletrado e dar aso à liberdade cognitiva do sentir.
      E pedro sempre a insistir na comitiva das letras. Diz que a procura deve ser feita pelo envolvente. Que eventualmente, encontrarei o animal truculento que habita o interior de mim. 
     Cortarei os pulsos do que morre dentro do meu peito e seguirei pelo caminho do obscurecer noturno, e de mim sairá a seiva cristalina de um novo manuscrito. Tudo o que fica são as letras. Nada de mim restará nesta infusão de extermínio. Nenhum afeto, nenhum gesto sobrará neste calcinante caminhar do ofício.

O infinito prescrever das letras.

Agosto 18, 2016

      As pegadas de joana são como borboletas de areia que vogam a espuma delinquente das ondas. Sinto crescer dentro de mim as raízes etéreas de um final feliz. Um espectro mortal no infinito prescrever das letras.
      Ao longe na fotografia surgem imagens de tertúlias debaixo dos abetos. Uma magnólia em tons de sépia surge ondulante ao cantor do vento. O que é que eu sei? Quem é que eu penso que sou?
      Dentro do manuscrito tudo é dor e esquecimento. Uma utopia disforme, compulsiva, permeada por um eterno retorno de sofrimento. As letras não distinguem um sofrimento de outro.

Viver, pulando de suicídio em suicídio.

Agosto 17, 2016

      Risco na areia da praia o título do manuscrito à espera que a bruma das ondas leve as letras consigo. Nisto joana continua a dançar deixando pegadas na areia em forma de borboletas que voam.
     Algures na espuma espessa das lágrimas, surge uma fotografia. Uma imagem disforme de um passo distópico. Nada daquilo aconteceu. Eu não existo na fotografia da minha cara. Nem naquele passado capturado nela. Sou apenas um momento, um ápice, um ritual de passagem no grande espetáculo das coisas.
     Tenho medo do escuro. Não propriamente do escuro mas da possibilidade de viver, pulando de suicídio em suicídio. Escondendo o corpo da morte de mim. Um eu que não quer mais desistir. Um eu que corre as ruas vazias da memória à procura dum vagabundo que tenha uma resposta fugaz.

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