A Cascata Dolorosa dos Dias.
Dezembro 28, 2019
Passei a noite encostado à janela. Contei os carros que passavam vagarosamente na rua. Os faróis que surgem de uma esquina olham-me nos olhos em desafio e seguem caminho assim como chegaram. Não deixam vestígios na janela em que me encosto na esperança de te ver chegar. Conto os carros em que não és tu. Carros, motas, o metro que faz os caixilhos chocalharem em surdina. No escuro sinto aquela mão fria do desespero alcançar dentro do meu peito e apertar este coração moribundo. Vivo numa taquicardia desesperada. A cada som penso que és tu. Surge alguém na rua. Pinga uma gota de esperança... mas não és tu. A cada momento perco-me na síncope de uma pequena morte na cascata dolorosa dos dias.