Esquecimento
Novembro 04, 2008
Olho dentro da maré revolta da memória e assisto à deformação recorrente das imagens que a permeiam. Sinto-lhe um desfasamento constante. Uma transformação permanente que nunca acaba. Umas imagens misturam-se com outras e são contaminadas com um novo sentido. Sinto que nestes momentos perco a noção do que vivi e do que a minha mente pensa que eu vivi. Já não sei a diferença entre a realidade objectiva e a realidade que a minha memória inventou para mim. Imagino um fosso escuro onde tudo se perde. Onde tudo se distorce desinformando-me da realidade.
Procuro dentro de mim quem eu sou. Mas quem eu sou já não existe. A constante deformação daquilo que hoje entendo como memória deixa comigo a incerteza de tudo. Não sei se existo ou se apenas penso que existo. Não sei até que ponto não passo de uma fragmento da memória solto nas trincheiras do pensamento ou se de facto tenho algum tipo de expressão fisica. Afinal tudo o que é fisico é uma expressao da mente.
No fundo tenho medo de me desfazer em pensamentos e aos poucos perder a cor, de tempos em tempos perder o tom, esquecer a textura do meu ser e somando os momentos perdidos finalmente acabar por sublimação num ponto minúsculo e implodir no esquecimento.