Suspensão
Dezembro 10, 2008
Toda a noite foi um sonho. Mas não um sonho qualquer. Passei a noite a sonhar que estou no ponto eminente de acordar. Fico ali, inclinado na vertente do esquecimento sem no entanto chegar efectivamente a acordar, sem saber onde está o limite onde passamos de adormecidos para um estado de pré-alerta, onde desse estado de pré-alerta passamos a estar conscientes de que finalmente estamos acordados. É como se nos inclinássemos na vertente do sono, sem no entanto nos suspendermos na queda que nos traria de volta ao mundo dos acordados e que nos faz permanecer na constante agonia da indecisão.
Sabemos que a queda será eventualmente inevitável. Uma queda no vazio, na inexistência da suspensão do espírito até que o embate nos traga eventualmente de volta ao mundo sombrio da realidade. Não sei o que significa estar permanentemente neste estado de negação absoluta onde toda a realidade se anula e substancia no interior do meu pensamento. Chego a pedir para deixar de pensar. Desligar os processos que me dão a vida, os sintomas da alma que me dão o sentir e dessa forma suspender a dor de não pertencer a lado nenhum. Seria a forma de deixar de sonhar, de fugir sem me mexer destas imagens constantes que apesar de não me fazerem mal, me assustam terrivelmente. Apenas por não se definirem em algo mais palpável, mais concreto, que se substanciassem num caminho secreto para que eu finalmente conseguisse encontrar a escapatória paliativa deste ciclo infindável que me interrompe o descanso até que a madrugada resolva abruptamente o que eu durante toda a noite não consegui apenas para me manter na expectativa de na próxima noite vou voltar a reviver tudo outra vez.