A Voz da Justiça
Dezembro 16, 2008
Hoje chove. Sinto a cortina de pingos lá fora a melodiar-me os ouvidos. Tanta falta me faz esta água. Esta humidade proveniente dos céus destilada dos vícios e da maldade. Nesta água me banho e bebo à sua santidade. Esta água que nunca devia de parar de cair para poder terminar a interminável tarefa de lavar os males do mundo. Mas não o faz, não o consegue fazer, é impossível lapidar o ódio e o rancor, o egoísmo ou o narcisismo da raça humana. Mas é sempre possível massajar-me o espírito com o seu frio terapêutico, limpar os meus poros das sevicias do quotidiano e exorcizar as toxinas que também crescem dentro de mim por convivência.
Não percebo este tipo de osmose moral que parecemos julgar os nossos actos pelas atitudes dos demais e passamos a definir assim o que está certo e o que está errado. Não por estar de facto certo ou por estar de facto errado mas por ser a forma como a maioria pensa ou age. Julgo ser uma doença ética fechar os olhos para não sentir quando o que sentimos nos diz claramente que o que testemunhamos está errado. Pactuar com todos estes modos de subserviência ética e por retórica interior convencermo-nos que algo está bem por que toda a gente o faz ou por que durante uma eternidade terá sempre sido feito assim está a meu ver absolutamente errado.
Temos de ganhar coragem para lavarmos esta lama que protege a falta de ética e dar-mos um passo em frente na criação de um mundo mais justo e correcto à face dos injustiçados e principalmente daquele que por uma razão ou por outra não tenham voz audível e tornarmos todos juntos a voz mais forte, a voz do futuro, a voz da justiça.