Alter-ego
Janeiro 07, 2009
Cerro os punhos para não gritar. Para não atiçar as unhas na fronte maligna desse brilho escuro que me entorpece. Prostrado, respiro como quem se afoga sem no entanto chegar morrer. Afundo-me no colchão negro escondido desta ausência de sons. A falta de sons que no meio desta cacofonia que me aflige os nervos e me faz chorar pelos poros. Sinto a sua mão profunda amarrando as minhas vísceras fazendo-me agonizar em fôlegos de sangue. Desconjunto todos os segmentos do divino porque penso que este é o meu inferno. Sinto um desejo de andar sem pernas, uma vontade de cair para cima em absolvição e substituir esta forma de viver com outra coisa qualquer. Outra vida longe da percepção da dor constante que me desconjunta o peito em mil pedaços graníticos.
Não aguento mais este jogo de tentar encontrar o preto no escuro e dando sempre de caras com a negritude da minha alma. Suja, imunda, conspurcada pelos acessos de sobresconsciência e pelas vozes do desejo, que sei não serem minhas, nunca foram minhas, mas existem em mim, ecoam em mim, bem dentro do meu pensamento. Julgo serem vozes de uma outra pessoa, alguém que vive por mim no meu lugar. Alguém que aprendeu a falar por mim, que não pensa por mim mas age por mim, alguém que sorri sem a minha autorização e que no fundo quer o meu lugar, a minha vida, condenando-me a esta existência escura, escondido, incógnito e lavado em lágrimas de ódio por não conseguir fugir deste destino, desta posição fetal que me calcifica as articulações e no fundo tenho medo que um dia surja a queda abrupta do esquecimento e assim desse modo seja sentenciado à morte.