Na Sombra da Chuva
Fevereiro 05, 2009
Tudo na vida tem um fim. Não exactamente um principio, mas um fim. Vamos vivendo as nossas vidas onde tudo se esbate num cinzento inexplicável. Não sabemos como.
Emoções mescladas de indiferença confunde-nos de maneira a que a certo ponto deixamo-nos de importar com o que se passa a nossa volta. Nesse momento estamos a beira de naufragar. Bolinamos perdidos neste oceano cruel e melancólico. Não sabemos como tudo começou. O que nos leva, o que nos leva para a derrocada.
O sol deixa de brilhar. A escuridão dita o desgoverno do espirito. A dor aumenta deixando-nos inertes. Mentalmente comatosos, excepto a dor excruciante que nos alastra pelo peito, arrepia a espinha e faz qualquer som ressoar mil vezes no crânio, impossibilitando qualquer tipo de raciocínio.
Já houve um tempo em que fui feliz. Sinto isso. Não me lembro. As memórias fugazes escapam-se-me pelos dedos da angústia. Tornado o passado algo sombrio. Um sitio que não sei se quero voltar.
Florestas de pensamentos pululantes assolam-me de tempos a tempos. Não sei porquê. Pensamentos longos a que uns chamam sonhos. O que será um sonho? Será bom? Pois os que me assolam devem ter outra definição, pois aterrorizam-me. Aumentam a minha debilidade por saber que nunca terei força suficiente para realiza-los. A inércia causada pelo constante fracasso torna-se demasiado pesada para mim.
Ignoro-os.
Tudo isto trepassa-me a cada segundo da minha vida tornando-a insuportável. Por detrás de um sorriso amável. De um gesto complacente escondo o maremoto que me corrói por dentro. Nada nem ninguém irá alguma vez saber que conto as lagrimas que choro para dentro. Sim, choro para dentro.
A cada lagrima dou um nome. Lagrima numero um: saudade; lagrima numero dois: tristeza; lagrima numero três: depressão; lagrima numero quatro: amor; lagrima numero cinco...
Assim continuo até me deixar dormir pois é o único esconderijo que me resta. Durmo e espero não sonhar caso contrario mais vale não dormir. Porque volta o pânico, o pavor que me faz chorar pelos poros.
Acordo todo suado com a pele arrepiada e sabendo que a solução que procuro é um novo amor. Mas não me sinto capaz de voltar a amar.
O meu coração parou de bater. Limito-me a esperar pela morte. Ele já não bate porque eu não quero. É muito perigoso. Posso-me magoar mais ainda. Magoar outra pessoas. E para infeliz basto eu.
A vida é só uma soma de infortúnios aos quais temos de nos habituar e conseguir superar. É difícil... eu sei.
Por isso que ainda ando por aqui. Carregando este peso cada vez mais intolerável sem ninguém que nos dê uma ajuda pois cada um tem a sua própria carga a transportar o que por si só já é demais. Ninguém quer ajudar.
As pessoas já não são pessoas. São meros fantasmas. Espectros flutuantes que rodeiam o meu quotidiano assustador. Fugazes, longínquos.
E por isso que gosto quando chove. A agua fria faz-me lembrar que estou vivo. Olha-a nos olhos e ela fere-me na sua inocência natural. Lava-me a alma rejuvenescendo-a . Dá-me vontade de chorar, desta vez como toda a gente, chorar como uma criança. Chorar, chorar, chorar...
Apetece-me chorar por mim e pelo mundo inteiro. Desabafar, descarregar todo este negrume mental que me infesta sufocando-me. A chuva é minha amiga. É amiga de toda a gente. Quando desejo uma boa viagem a alguém não digo: “Vai pela sombra.”
Digo: “Vai pela sombra da chuva.” . Pois é o sitio mais seguro para se viajar.