Obsediana
Junho 16, 2009
Soa o clangor da porta e o momento irredutível que me protegia desapareceu. Obsediana chegou e com o seu passo macio atravessou os segundos distendidos que a separavam de mim.
- Sabia que te iria encontrar aqui.
Olho o espaço e a luz negra da noite enche-me de vida, julgo sentir um certo conforto no seu lençol frio.
- Também devias saber que eu não queria ser encontrado.
Estou aqui neste canto absorvido pela dor da renuncia e sei que sabes que a minha vida gira em torno dos teus lábios e do beijo que algures no passado os teus olhos me prometeram.
Chegas perto de mim soltando peças de roupa pelo caminho, o cabelo pousa suave na tangente de pele vítrea e tornas-te efémera, alada, um pássaro na penumbra que voa sobre mim. Contraio-me diminuindo o corpo ao impacto.
Um beijo. Sim.
Boca, quente, lábios, húmidos, olhos, fechados.
Um coração fechado também.
Não era esse o beijo que eu queria.