Podias ser tu...
Outubro 05, 2009
Acordo no frio do chão acompanhado pela dureza insípida do azulejo, pisco os olhos imerso na penumbra e por momentos penso que estou a sonhar.
A madrugada desponta ao longe como uma linha ténue sobre a indefinição dos prédios.
Pombos arrulham, apitos ao longe, cães e gatos, metal, vidro que parte, chuva, vento que geme baixinho. Gemidos que gemem na minha companhia.
Não quero olhar, não quero saber.
Obsediana vê-me pelo canto do olho, sabe-me aqui. Consciente de mim o seu prazer duplica, aumentam os gestos, as oscilações, queixumes de alcova. Dói-me fundo.
O que ainda faço aqui?
Não quero saber, não quero olhar.
Fôlego. Fôlego sem fôlego, respiração de chumbo, oleosa. Rubor, aceleração, espasmos, corpos que se contraem, vibram na vertente imensa do delírio.
“ Não aguento mais...”
Não durmo, não sonho, vivo um pesadelo, horror, criaturas difusas, fogem-me os segundos, diluem-se os pedaços de pele, sangue vivo. A cada gemido morro por dentro em aspirações de vácuo.
Não vejo, não quero saber, mas sinto-os ali, dedicados, não um ao outro mas à perseverança de me fazer sofrer. Exibem um amor que nunca tiveram impedindo-me de concretizar o amor que sempre tive.
Erupção, clímax, grito infernal.
Conheço de cor o sorriso de ambos. Náusea.
Obsediana passa por mim exibindo a sua nudez vítrea escorrendo gotas de esperma.
“ Podias ser tu...”