O Mais Importante Feito da Criação 7/10
Julho 04, 2010
Falta-me a força. Sinto o peso do medo. Algo puxa-me para baixo. Ouço uma voz dentro de mim a pedir-me para desistir. Para deixar-me levar.
Volto à tela. Volto à prancheta das cores. Tenho de continuar mas tenho medo de voltar a encontrar o Horror. Não olho para o espelho Ela ainda pode estar lá.
“ Tenho de conseguir.”
Seguro o pincel a medo e tento pintar de memória.
Impossível.
Perdi a imagem. Algures perdi a recordação. Não consigo me lembrar de Flora, dos seus gestos, da sua forma de estar, do seu sorriso. A sua voz perdeu-se nas fendas da alucinação.
Procuro aflito o que resta de Flora dentro de mim e não sobrou nada. Tenho de voltar a olhar. Angustiado olho.
E no reflexo prateado do espelho surge não a imagem da sedução diabólica mas o medo do terrível, do obscuro: a fealdade da morte.
Olhos fundos de negro, vazios. A pele ressequida de uma morte prematura. Músculos, tendões, nervos. Podridão à flor da pele.
“ Acredita em mim.”
A voz surge mas não me afecta. A dor continua o seu percurso feroz pelas múltiplas fibras do meu espírito.
Tenho de continuar desolhando a boca gutural que me chama para o obliviamento.
“ Porque me abandonaste?”
“ Estou aqui contigo. Não te vou abandonar.”