O Mais Importante Feito da Criação 9/10
Julho 18, 2010
Preciso lutar. Resistir a esta maligna condição. Mergulhar no abismo e ressurgir mais forte.
Levanto-me empunhando as armas da ressurreição e começo a pintar. Jorros de tinta gritam sobre a tela uma imagem que luta pela vida. Golpe atrás de golpe atacamos-nos com uma violência crescente.
Fogo, rasgos na pele, tormenta. Um vento frio atravessa a sala. Tudo se consome. Só o mais forte sobreviverá.
O espelho treme e racha. Folhas de papel voam pelo ar. A água nos copos treme e ferve. Pingo suores de sangue no calor da Criação.
A imagem borbulha desaforos e cresce o terror que me calcina as articulações e sem hesitar continuo a retratar não esta imagem do niilismo apocalíptico mas a profundidade escondida onde ainda habita a personalidade da Flora.
Gestos assassinos rasgam o tecido da realidade e perco-me envolvido num turbilhão espacial. Redemoinho no qual perco o sentido do peso mas sem fechar os olhos continuo a exorcizar os seus gestos benzendo a tela com uma imagem santa, com o reflexo da purificação da alma que este diabólico calculismo tanto deseja evitar.
Neste momento, aguilhoada pela vertigem iminente da derrota a imagem solta-se nas frestas, emerge da superfície do espelho, ganha forma material deste lado do universo e atira-se sobre mim.
Apanhado de surpresa caio de costas e sinto as suas rugosas mãos apertarem-me o pescoço. Tento me soltar mas a suas unhas cravam-se cada vez mais fundo na minha garganta. Falta-me o ar. Pingam gotas de saliva venenosa da sua língua serpenteante. Tudo arde em mim. Sinto-me desfalecer.
No derradeiro momento abro os olhos para ver pela última vez a face da morte.
Os seus olhos vazios, de repente um espasmo.
No meu pescoço sinto as suas mãos perderem a força.