Fenecem as tardes de encontro ao agosto dos dias.
Agosto 15, 2010
Sobranceiros são os gestos na penumbra. São meros dias que se desvanecem nas longas noites de verão. Esqueço o tempo mortiço que pinga nas clepsidras arenosas sobre o magenta solar que me encobre.
A principio penso que não vejo. Cores, luz, invisível o clangor do por-do-sol embatendo no horizonte. Maré entre maré, subindo e descendo a encosta de lágrimas espumosas do passado. Magoas como lismos, tudo a pouco e pouco se transforma permanecendo entretanto num antigo e obscuro solário da memória.
Nunca o fim chega ao fim. Esta dor constante que nunca se afasta, esmorece ou termina. Fica apenas ali, indiferente a mim, umas vezes ao longe, outras vezes mais ao perto sem nunca desaparecer por completo.
Saudade, talvez... saudade de um tempo que não aconteceu. Saudade de algo que poderia ter acontecido, um misterioso acaso que torna-se tudo diferente, melhor. Como se fosse algo que apesar de não ter acontecido gostaria que se repetisse.
Só que tal coisa nunca aconteceu. Ficou ali, de lado, com o dedo no ar, à espera da sua vez, paciente, cheia de esperança; e a vida desconcertada, com medo de não saber o que fazer com alegria, olhando para o lado, desentendida, esquecendo pouco a pouco, fazendo que não era nada com ela, mudando de assunto, atravessando a rua para evitar o encontro.
E assim se perde o sentido à vida, a oportunidade da realização, o rumo que nos levaria à felicidade.