Despido da Vitalidade de Ti.
Janeiro 03, 2020
Fiquei sob o vão daquela escada. Encostei-me à parede húmida e fria. Precisava de apoio. Alguma coisa palpável onde pudesse assentar esta dor. Onde abandonado pudesse adormecer, anestesiado pelo cansaço. Aninhei-me escondendo o corpo ao vento que trazia a cacimba da madrugada. Estava doente, sabia que isto de viver não duraria muito mais. Enrolado em mim mesmo tento esquecer esta dor. Tento esquecer esta lança venenosa que me penetra o coração. Este cruel desespero de já não te ter comigo. O que mais me resta senão o sacrifício deste corpo que no fim de contas nunca foi meu? Sempre foi o invólucro onde eu cosi o preço das minhas desilusões. Chega o dia em que todos temos de pagar, mesmo que seja numa noite fria, de uma madrugada perdida, numa rua que desconheço o nome, na companhia de gatos vadios e garrafas de vinho que pingam gotas de azedo. Espero que seja desta vez que expire o infortúnio de viver num corpo sem alma, ao som de um bater do coração oco, moribundo, despido da vitalidade de ti.