Toda a gente precisa de atenção.
Agosto 26, 2016
Olho as minhas mãos, os dedos estão vermelhos, inchados. No dedo médio já existe um encaixe fabricado pelo poisar da caneta durante horas e horas de esculpir as palavras. Quilómetros de frases sem sentido aparecem, vão, voltam e subsistem. Insistem comigo, falam de coisas que não compreendo. Como é possível não compreender o que sai de dentro de mim?
Olho o quadro na parede e este encontra-se inamovível. Preso na escuridão de um canto iluminado. Está ali. Pura e simplesmente existe. O miador sobe para a secretária, roçando o corpo na pilha de livros que me servem de apoio.
Ao lado, o bonsai de glicínias jorra os seus violetas sob o tampo desgastado da secretária. O miador ronrona olhando para mim, precisa de atenção. Toda a gente precisa de atenção.
Chega-se ao ponto de não saber o que é o passado ou o que é a imaginação. Soltam-se as folhas ao vento soprado pela voz da criação e dentro desta, o mundo existe à potência de si. Multiversos de ficção surgem dentro do autor como se ele fosse a nascente da sabedoria. Não existe sabedoria dentro de um escritor.